Eles reclamam que estão cansados de ter que quase
sempre tomar a iniciativa no jogo da sedução. Mesmo depois da revolução
feminina, muitas rebeladas permanecem passivamente à espera do macho caçador.
Nas mesas de bar, os homens sonham com uma mulher que queira apenas sexo e que
não seja mais uma donzela em busca do príncipe encantado. Também divagam sobre
uma espécie rara que dispensa a conversinha fiada, os jantares, as saidinhas
preliminares e afins, e vai direto ao ponto, ou seja, que está a fim de uma boa
trepada sem delongas, compromisso e os manjados e subterfúgios românticos
falsos para chegar até a esse ponto.
"A gente quer. Agora"
Mas quando essa mulher, finalmente, toma as rédeas
da conquista, o discurso muitas vezes cai por terra. E, infelizmente, o pau
também.
Antes de os machos matadores se pronunciarem, quero
deixar bem claro que cada caso é um caso e não pretendo generalizar o
comportamento masculino. Tudo que descarrego nessas linhas faz parte de uma
visão bem parcial, sem pretensão alguma de ser neutra ou justa, e de um
histórico particular de tocos e brochadas. Não gosto de classificações, porém,
se for para me colocar em alguma, acredito que estou entre as mulheres que
preferem tomar uma atitude a ficar passivamente na espera. Também sou dessas
mulheres que fazem sexo por sexo e que não têm medo de expor seus desejos. O
problema é que os homens ficam acuados quando a mulher toma a iniciativa.
Levantei algumas hipóteses para o fenômeno:
· O velho pensamento
“é bom demais para ser verdade” faz com que alguns se afastem logo de cara
porque acham que a mulher deve ter algo de errado ou bizarro;
· Muitos pensam que
se a mulher tem toda essa coragem para mostrar o que quer deve ser um “furacão”
na cama e aí surge o medo da brochada, que ironicamente acaba sendo o ingrediente
principal para uma boa brochada;
· Alguns homens não
se libertaram do “complexo de Pavão” e não conseguem se excitar se não se
sentirem os sedutores, conquistadores, o que coloca a fêmea imponente em uma
posição excessiva de igualdade, fazendo baixar suas penas.
Obviamente estou considerando essas hipóteses
apenas em um contexto em que existe um interesse inicial. Traduzindo: o cara
está a fim de comer e a mulher está a fim de dar. Desconsiderem as situações em
que não há atração, liga, cola, vontade. Mesmo com um objetivo comum, às vezes
a coisa não se desenrola bem quando a parte feminina da brincadeira chama para
o jogo. Isso já aconteceu comigo pelo menos umas cinco vezes. Não, não sou uma
baranga peluda. Também não tenho mau hálito. Confesso que não sou uma deusa do
Olimpo, mas digamos que estou dentro do parâmetro “pegável” e tenho o mínimo de
autoestima.
Consideradas essas ressalvas, voltemos à análise
das hipóteses. No primeiro caso, acredito que os homens estejam muito
acomodados em relação ao padrão cultural predominante, em que as mulheres ainda
ocupam o papel de “perseguidas”. Quando esse comportamento se inverte, eles
ficam perdidos e receosos. Como se no cérebro deles acendesse um alerta de
perigo, como se alguém que foge ao padrão não pudesse representar algo
positivo.
E aí, pra gente, o que é que sobra?
Também percebo que eles não sabem lidar com o
desejo explícito de uma mulher. O homem garanhão é viril, atraente, mas a
mulher que age do mesmo modo é “oferecida”, “atrevida”, que são características
vistas como negativas. Em conversas com amigos sobre o tema, um deles disse uma
frase que resume bem o paradoxo da mulher com iniciativa x mulher desejável:
“Acho legal a mulher
ter iniciativa, mas ela não pode se oferecer.”
(Léo)
Como muitos homens, Léo pensa que a melhor maneira
de a mulher ter atitude é por meio do charme, demonstrando de forma indireta
que ela está a fim. Isso significa que se queremos garantir a foda o jeito é
encarar os velhos joguinhos e a surrada identidade de frágil dama seduzida. A
iniciativa na verdade nada mais é do que apenas um sinal de “estou disponível,
pode vir se quiser”. Todo esse teatrinho previsível é extremamente entediante
para mim. Gosto da adrenalina de desafiar a zona de conforto masculina revelando
com todas as palavras (ditas ou escritas) o quanto um homem me perturba e o
quanto desejo sentir seu cheiro e sua pele em contato com o meu corpo. Quero
poder ter o mesmo direito à iniciativa de revelar os meus anseios. Mas na
maioria das vezes em que fiz isso o que veio depois foi bastante decepcionante.
Um amigo com quem tentei transar algumas vezes
brochava cada vez que eu alcançava seu pescoço. Ele dizia que se sentia
invadido por esse meu gesto, que eu precisava controlar meus impulsos e esperar
que ele se manifestasse primeiro para aí então retribuir às suas carícias. Uma
noite resolvi fazer o esforço para tentar ganhar a recompensa. Mas depois de
três horas de TV e blá-blá-blás, abraçadinhos no sofá, não aguentei, pulei de
novo no pescoço do rapaz, que brochou na minha sala pela última vez.
Claro que nem preciso explicitar aqui que a sedução
tem suas nuances e sutilezas. A linha da vulgaridade é muito fácil de ser
ultrapassada e quando isso acontece é natural que tanto homens quanto mulheres
fiquem acuados e sem tesão. Mas não é dessa situação que esse texto trata. E
sim daquelas em que a tensão sexual está nas alturas, porém pode despencar se a
mulher der o primeiro, segundo ou sei lá qual passo que deixe o homem se sentir
ameaçado. E chegamos então à segunda hipótese.
"Será que você aguenta comigo? Será
mesmo?"
Por razões quiçá genéticas ou ancestrais, os homens
costumam se impor uma pressão de desempenho na cama. Eles se sentem na
obrigação de apresentar uma boa performance. E quando uma mulher é corajosa o
suficiente para deixar clara a sua vontade aciona o mecanismo masculino de
“porra, tô ferrado”. O cara já fantasia que se a mulher lida tão bem com sexo a
ponto de expor seu desejo vai detoná-lo na cama e que ele vai ter que ser muito
bom para satisfazê-la. Como vocês já devem saber, expectativa alta é
incompatível com pau duro. O pior é que isso tudo não passa de uma grande
bobagem. A maioria das mulheres não espera nada além de poder se entregar
livremente aos seus instintos profanos, desejando receber em troca apenas a
mesma intensidade de tesão.
Também já saquei que muita familiaridade piora esse
problema. Outro amigo de quem gosto muito (não me pergunte por que continuo a a
insistir nos amigos) teve dificuldade de manter a ereção comigo, apesar da
vontade louca que a gente estava de se comer. O problema é que ele conhecia meu
apetite por sexo e algumas histórias pregressas. O excesso de informação
funcionou como antídoto para a relação.
Preliminares
Apesar de alardearem que adorariam pular algumas
etapas, como jantarezinhos e outras firulas, para ir direto ao que interessa,
quando isso se torna realidade muitos machos alfa, beta e gama perdem o chão e
outras cositas pelo caminho.
“Quero você aqui e agora” assusta alguns moçoilos. Eles também precisam de
preliminares para ganhar confiança. Um chamado assim tão direto eleva demais o
nível de pressão e pode acarretar consequências indesejadas. Um colega de
trabalho disse o seguinte sobre ser requisitado na “chincha” para um rala-e-rola:
“Não sei se
conseguiria fazer sexo com hora e local determinados, gosto que a coisa
aconteça de forma mais natural, talvez depois de um barzinho com amigos.”
(Edu)
Será que sou muito
pervertida por querer pular o barzinho? Por querer apenas sexo com um homem sem
precisar seguir as velhas convenções sociais? Por não fingir que o sexo
“aconteceu”? De qualquer forma, minha perversão não consegue ir muito longe.
Pelo menos não com os homens brasileiros com quem já tentei pular essas etapas.
Os resultados são quase sempre parecidos: fuga ou
brochada.
"É de mim que elas estão falando, é? Também,
ela veio toda apressada me atacando! Assim não funciona mesmo"
Já com alguns estrangeiros que conheci no Brasil e
em andanças pela Europa, felizmente, a lógica não é a mesma. Pelo menos entre
os que passaram pelos meus lençóis. Eles não se intimidaram com minhas
iniciativas, ao contrário, ficaram ainda mais excitados em ver o efeito que
provocavam em mim. Também não se incomodaram nem um pouco em suprimir etapas.
Meu chute para essa diferença de comportamento está relacionado à terceira
hipótese.
Por não serem tão machistas quanto os brasileiros,
esses europeus que conheci intimamente são menos suscetíveis ao “complexo de
Pavão”. Eles não precisam estar sempre no papel de sedutores para ficarem
excitados. A igualdade com as mulheres, inclusive no sexo, não representa uma
ameaça. Eles não têm essa necessidade tão latente de serem os responsáveis pela
conquista e sabem desfrutar tranquilamente o momento quando estão do outro
lado.
Ser uma mulher com iniciativa, pelo menos para mim,
não tem facilitado muito as coisas. É simples perceber que existe uma distância
entre o que os homens dizem e o que eles realmente querem. Os homens são mais
complicados e sensíveis do que aparentam ser. Ainda existe um enorme tabu e
preconceito em relação à mulher que manifesta claramente seu desejo por sexo.
Querer apenas uma boa trepada ainda não faz parte
dos direitos conquistados. A iniciativa da mulher é bem-vinda pelos homens
apenas se estiver dentro das expectativas deles, das formas como eles a
idealizaram. Não existe liberdade genuína. Para que o sexo aconteça, o caminho
mais seguro e provável passa pelos velhos clichês da mulher conquistada e do
homem caçador. Se quero evitar a fuga ou a brochada, o mais fácil é me fingir
de caça. Qualquer gozo é melhor do que nada. Mas continuo sonhando com homens
que não se intimidam com o desejo de uma mulher, que se excitam ainda mais em
ver, ler e ouvir o tesão que provocam, que sabem conquistar e ser conquistados.
Fonte: Papo de Homem
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