Uma mulher de 30 anos razoavelmente bonitinha pode não se lembrar de todas as noites razoavelmente boas que teve ao lado de homens razoavelmente legais. Mas certamente se lembra de todos os mãos de vaca.
Esses a gente não esquece. Até os maravilhosos, dependendo da quantidade de remédios que se tomam pra dormir, a gente acaba apagando da memória. Mas dos “muchibas” a gente vai se lembrar até o último dia de nossas vidas.
O primeiro pão-duro que conheci foi quando eu tinha uns 17 anos. Um dos meus primeiros namoradinhos. Não lembro o sobrenome nem a cara dele, mas nunca vou esquecer o dia em que me falou: “Você paga o cinema porque já gastei a gasolina pra te pegar em casa”. Achei que esse tipo de homem fosse raro, mas com o passar dos anos descobri que, assim como os ejaculadores precoces, os pães-duros estão aos montes por aí. Teve uma vez também que conheci um grande empresário, dono de produtora e o escambau. Era a noite de lançamento de um dos meus livros e ele, gentilmente, reservou uma mesa para nós, que namorávamos havia poucos meses, e minha mãe, que ele iria conhecer naquela noite. Na hora da conta… Minha mãe se ofereceu. E ele somente sorriu e fez carinho na minha perna. Na mesma hora minha mãe chutou minha canela. Era nosso sinal já conhecido há anos de “cai fora dessa, minha filha”. Outra noite inesquecível foi quando outro namoradinho, com preguiça de passar no supermercado, resolveu levar um vinho de sua adega para o aniversário de uma amiga que oferecia um jantar. Ele passou o caminho inteiro reclamando: “Pô, custou 80 paus essa garrafa! 80 paus!” No momento de ir embora do jantar, como não havíamos aberto a garrafa, ele a pediu de volta — chocando a todos e selando pra sempre o fim do nosso amor.
Já viajei com homem que dividiu o quarto comigo e com outro casal em pleno Carnaval. Adepto da suruba? Não, pão-duro mesmo. O que, ao menos pra mim, é mais sujo e sacana que qualquer experimento grupal. Já ganhei presente de Natal igual ao da cunhada e ao da sogra porque, levando três vestidos, um saía de graça. E a mãe ainda achou uma boa ideia (aliás, isso é culpa delas, que não educam seus filhos).
Meu caro amigo: não peça pra embrulhar o que sobrou do jantar, não leve o resto da bebida, não reclame dos 4 reais a mais da água que você não lembra que tomou, não preencha cupom, não faça a moça andar sete quadras de salto pra economizar manobrista, jamais mencione a palavra “standard” e, principalmente, por favor, não comente depois de pedir camarão: “Porque afinal de contas hoje é uma noite especial, né?”
Não tem dinheiro pra levar no DOM num primeiro encontro, leva no cachorro-quente, mas paga o raio da conta. Chegou antes no cinema, compra os dois ingressos e não cobra. Comeu feito um cavalo no 37º encontro enquanto ela beliscou uma salada? Paga a conta. Tá malzão de grana? Convida prum filme em casa e capricha na massagem. Dinheiro não melhora o homem — mas o modo como se comporta em relação a ele definitivamente pode torná-lo pior.
Se algum homem duvida disso, deveria saber quanto custa se arrumar para uma noite especial. Quanto custam uma depilação perfeita (fora a dor), um cabelo bem tratado, as unhas bonitas, a pele sem manchas, uma roupa bacana, os dentes branquinhos, os pelos alourados do braço, o brinco que sumiu depois dos amassos no carro e, principalmente, aquela calcinha que você não vai ver… Afinal, homem que escolhe o prato pela coluna da direita não merece ver a coluna do meio.
E você é um homem Pão duro?

Célia Pereira